O País Banal
Lobo Suelto!
(Traducción y fraternal
agradecimiento: Bruno Cava)
De tão banal a cena que começa a
desdobrar-se já não se admite sequer a tolerância do fato maldito. Dá vergonha
tanta estupidez própria e alheia. Não é questão de eximir culpas, mas encontrar
modos de combatê-las. A estupidez não é fenômeno pessoal, mas a todos alcança
como fenômeno das sociedades de mercado. A impotência que hoje sentimos é isso.
Estupidez neoliberal. Que demonstra, entre outras coisas, que nesses anos em
vez de superar o neoliberalismo eles o alimentaram, ainda que de um modo
heterodoxo. E por isso o olhar não já não alcança mais os modos de vida, como
se embaixo houvesse uma verdade inacessível para as alturas. Nem a militância.
Não. Já não há astutos, se acabaram os malandros. Dizer que o sistema político
em seu conjunto se blindou numa virada impudica e monolítica à direita é uma
obviedade. Basta ver as caras dos principais candidatos para convencer-se
disso. Sobretudo o agora presidente eleito. É isto o que nos deixam esses
últimos 12, 15 anos? Estamos podres de análises inteligentes que não movem
nada! Quando dizemos "direita" nos vemos obrigados a ser precisos: um
tipo de insensibilidade que confia as questões de laço social a noções como
"empresa", "fé" ou "polícia". Nisso está a
Argentina hoje. Certamente nem tudo. Mas como fazemos para que este "nem
tudo" continue existindo? Antes de qualquer coisa, nos ocorre agora:
encontrando modos de resistir. Ainda de imediato devemos aclarar que, quando
dizemos "resistência", não nos referimos à mitologia com o que sonham
de tanto em tanto as militâncias governistas. Estamos saturados desse
pseudo-heroísmo retórico tramado da impotência. Referimo-nos sim às
resistências concretas no quadro geral de uma convalidação extrema dos mais
perigosos (os mais vulgares) impulsos coletivos. É capaz esta direita
ultrabanal (e por isso mesmo ultraperigosa) de conceber a ideia de uma trégua,
noção que roça a essência da política enquanto prolongamento por outros meios
de uma guerra --- na medida em que está definida por relações de dominação?
Noutras palavras, há que voltar-se a traçar uma linha de demarcação. O 2001
morreu, viva 2001! que, como sabemos, nunca aconteceu. Não falemos de futuro,
as expectativas nos faltam, nas promessas não cremos. Falemos de dignidade e
somente disso. E a dignidade é não deixar-se e é hoje ou não é. Nenhuma das
chamadas "micropolíticas" nos deixará a salvo deste descalabro
político se não entendermos a necessidade urgente de traçar com toda a clareza
essa demarcação, essa resistência.